segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Morte

Não é facil matar um blog. Talvez o mais difícil seja saber que ele chegou ao fim.

Tem aqueles que blogs que morrem de velho, sendo deixados de lado pelos leitores pelo envelhecimento de idéia. Outros são mortos pelo webmaster, pelo conteúdo pouco apropriado exibido.

As mortes mais cruéis são aquelas em que o dono, pelo simples fato de não se importar com isso, deixa o seu blog à mingua, definhando por meses. Não dá atestado de óbito, não tem extrema-unção. O abandono é a pior maneira de matar um blog.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Misteriosa

Lulu tem um talento natural.









Desenho da lú... copiando a mamãe. Sem, é claro, o auxilio desta foto, que depois comparei!


Resumindo

- Já tentei ser quem eu não sou.
- Já fui quem nunca imaginei ser.
- Já pensei em morrer mais de uma vez.
- Já tentei magoar, inocentemente, a quem odiava.
- Consigo sempre magoar quem eu amo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Revirando as gavetas

Apesar de ser basicamente organizado, não encontro algumas coisas que guardo. Estou muito preocupado com o comprovante da declaração do imposto de renda, que não está em lugar algum. Outra coisa que me preocupa é um certificado de um curso dado nas dependências do meu atual emprego, a menos de 1 ano, que simplesmente sumiu dos meus arquivos.

Revirei as gavetas de documentos esta tarde, em busca de tais pertences, e obviamente não encontrei nada. Odeio não encontrar algo que tenho certeza ter guardado. Entretanto, revirar estas gavetas me fez encontrar outras coisas.

Dentro de uma pasta recente, juntamente com certidões de nascimento minha e da Faby, estava nossa certidão de casamento. Lá, intacta na gaveta, ela adorna a nossa vida de certezas. É como a certificação de que um dia, pelo menos naquele dia, estávamos tão certos do amor que sentíamos a ponto de afirmá-lo civilmente. Tal documento foi devidamente manuseado e relembrado por nós dois.

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Entre diversos materiais de eletrônicos, que guardo no intuito de utilizar para projetos futuros, encontrei duas fitas cassete muito velhas. Lembrava vagamente do que podia se tratar e separei tais fitas na arrumação. Depois de ter certeza de que o que eu estava procurando não estava ali, decidi ouvir as fitas.

O primeiro desafio foi encontrar um toca-fitas. Ta bom, ta bom, eu sou velho mesmo, eu sei. Com a tecnologia digital avançando tão rapidamente que não se vende mais toca-fitas em aparelhos de som, o jeito foi revirar os meus velhos alfarrábios na garagem. O meu velho Micro-sistem Philips me auxiliou mais uma vez, talvez a última. Ele tem tantos mal-contatos que desisti de conserta-lo um dia. Pelo menos serviu para alguma coisa ainda.

A primeira fita era um antigo presente de um amigo. Um presente tão velho que eu não entendo como ainda funcione. Diversos sons que marcaram a nossa juventude recente em uma única fita, gravada no antigo som da casa dos pais dele. Lembrei algumas músicas e depois parei. Decidi que algumas coisas do passado devem ficar no passado. A Faby me ensinou isso com sua eloqüência e seu amor.

A segunda fita foi para o deck e por instantes eu torci para que fosse o que eu pensava ser. Ao apertar o play, uma janela se abriu em nossa cozinha, nos transportando para o pequeno quarto das crianças, na antiga “casa amarela”, 5 anos no passado. A fita começa com pequenas canções infantis, canções de ninar ou simplesmente canções inventadas e cantadas pela Lulu, quando tinha apenas 5 aninhos. Além do registro da voz, que no início confundimos com a da Rafinha atual, temos o registro de alguns erros infantis de linguagem que até pouco tempo lembrávamos. Um registro especial para mim, que operava o som na época por segurança, é de que um dia, sem a pressão do pai biológico, ela me chamou de pai. Isso me trouxe lágrimas aos olhos.

Logo depois nossas vozes, minha e da Faby ao fundo, rindo e comentando sobre as canções. Minha voz aparece derrepente: “Essa é a voz da Rafaela aos 7 meses”. Logo depois de um estalo começa uma risada de bebê, inconfundível. Ela segue por quase 5 minutos e então outro estalo, sem registro da época. “Fala bebê”...

Minha voz e meu jeito de papai coruja me remete a sensação indescritível daquela época. Um pai jovem e sem recursos, lutando para dar o mínimo para sua família. Ela balbucia muitas coisas nessa fita, feita ao longo de quase um ano no antigo gravador do quarto. Fala “Papa” e “Mama” nitidamente. Chama nosso antigo cachorro e faz diversas manhas. O registro do “Exe?” quando queria saber se estava com a coisa certa na mão.

Papai e mamãe coruja embalam novamente a fita e dizem um para o outro: “Vamos guardar para sempre, talvez digitalizar”. Guardamos a fita mais a mão agora, para poder lembrar mais fácil. Se bem que acho que estas memórias nunca vão sair da minha mente.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Oscilações

Ainda dizem que a economia está estável...











Menos de 1 mês depois...


Passado

A internet é realmente incrível, diante de todas as possibilidades. Uma cabeça cheia de idéias e, de repente, ela se torna uma ferramenta muito útil.

Aprendi a utilizar os downloads feitos por torrent e minha vida realmente mudou. Lembrei-me de filmes que eu vi no cinema quando criança. De seriados antigos de TV e de programas infantis. Está tudo lá, guardado e documentado, esperando ser redescoberto pelas crianças.

Comecei a abrir esta porta. Baixei os filmes “A garota de rosa choque” e “Curtindo a vida adoidado”. As crianças não curtiram tanto quanto eu. Questão de embaçamento da mente, já que estes filmes fizeram parte da minha adolescência, não da infância. Cada coisa tem o seu momento certo. Fui mais fundo na mente, então me lembrei dos filmes do “de volta para o futuro”. Dias depois o download estava completo, dublado e cheio de extras. A minha filha mais velha adorou e pediu para ver comigo.

Nós na garganta foram diversos. Principalmente durante os momento finais do filme, num diálogo Dr. Emmett "Doc" Brown diz, encerrando a trilogia:

- O futuro não está escrito, ainda não aconteceu. Ele é feito do seu presente. Por isso, façam o melhor que puder.

Lágrimas escondidas nas faces, não consegui me conter e corri da sala. Mal posso esperar para baixar “Goonies”.

domingo, 7 de setembro de 2008

Hipocrisia

Ouvi à muito tempo atrás que eu não poderia comprar uma moto. Porque eu era pai de família, porque era muito perigoso, porque não havia cabimento. Concordei, pois moto era sinônimo de aventura e egoísmo, já que serve a apenas uma (ou duas) pessoa(s). Deixei de lado, já que realmente não havia condições de tê-la.

Meu intuito era, na época, facilitar a minha locomoção ao trabalho e talvez conseguir voltar a estudar. Mas tudo perdeu a lógica com os argumentos que ouvi e concordei.

Ontem, exatamente na minha folga, ouvi outra coisa que não me agradou. Ela havia andado na garupa de motos na juventude não tão distante. Minha mente, depois de alguns minutos de fermentação, explodiu em uma revelação que não consegui guardar para mim.

Estávamos indo para uma noite à sos e no meio da estrada eu disse: Hipocrisia. Ela não entendeu então eu disse novamente: Hipocrisia, esse é o nome. Comecei a briga que acabou com a noite, mas não consegui evitar.

Existe sim um homem para casar e outro para namorar. Por namorar entende-se curtir. E eu era o cara pra casar. Me senti um trouxa, uma possibilidade mais segura. Senti como se um enorme nariz de palhaço estivesse colado em mim a vida toda. Ou seja, depois de curtir a vida, com caras que não serviam para constituir família, eu fui o cara que gostou dela e que merecia mais confiança.

Pudera: Óculos na cara, um emprego estável, uma família que me apoiava. Amigos de infância e um crédito invejável na praça. Poucos relacionamentos, a maioria com mais de um ano. Perfeito... um otário.

Talvez não exista nada do que eu digo. Talvez eu esteja só viajando. Talvez eu tenha brigado por nada. Mas foi assim que eu me senti na hora.

sábado, 30 de agosto de 2008

1995

Como era bom adentrar a sala de aula, olhar em volta e ver pixações sem sentido, riscadas ou grafadas em pincel atômico... Um tipo de arte pouco ortodoxa, mas muito vigorosa e violenta: perfeita para quem estava revoltado com o mundo como se apresentava. Ouvir a música do Papa Winnie era o máximo durante a inda e vinda da aula. Durante uma hora de viajem, o ônibus se tornava uma forma de cama ambulante para os festeiros de final-de-semana. Sempre havia aquela hora para ouvir o radinho e para cantar “You are my sunshine, Yeahh. My only sunshine, right...” e aquilo fazia a noite parecer ter valido a pena.

Sempre tirava uma soneca na bancada antes de começar a aula.O professor era bem camarada, e às vezes tirava a soneca dele também. Tudo em casa.

Sonhava? Nem sonhava em escrever essas linhas. Muito menos nos acontecimentos que me trouxeram até aqui, atrás deste teclado, para juntar pedaços do passado, pensamentos do presente e esperanças para o futuro. Lembrava apenas do dia em que um caminhão havia causado um acidente em frente à escola, que tinha sido feio e que apenas o motorista havia se ferido.

Foi nessa época que eu tomei conhecimento de Porto Alegre, cidade vizinha, capital dos gaúchos. Ela se abriu em minha frente como uma selva de oportunidades e monstros bizarros, escondidos nos cantos escuros da minha malandragem limitada e meu parco conhecimento das ruas. Tive medo e anseio, pavor e curiosidade, terror e revelação durante meses à fio. Descobertas inúmeras fiz naquela época. Conheci pessoas incríveis e tive experiências ruins. Tudo muito bem aproveitado em um módulo cerebral chamado de aprendizado.

Tenho saudades de Porto Alegre. Talvez não da localização da cidade, ou de estar inserido nos limites dela. Sinto falta de estar vagando pelas ruas, sozinho ou com amigos, sem absolutamente nada de importante para fazer. Saudade de descobrir um sebo, um fliperama, uma loja de presentes legal. Saudades de entrar numa tabacaria e comprar um avulso importado por 25 cents. De sentar numa calçada qualquer, comento um morte lenta do centro, curtindo a tarde do vai e vem dos camelôs. De entrar em um fliperama clandestino no coração da cidade, fumar e jogar a tarde toda, gastando o dinheiro do lanche. Entrar na livraria globo, comprar um livro de bolso e ler no ônibus de volta pra casa.

Sem chance, o tempo não volta pra trás. Minha idade não mente e minha barriga denota falta de cuidado pessoal de longa data. Adeus sensação de extrema liberdade desta época. Que venha o desafio de sentir tudo isso de novo, de outra forma.

sábado, 2 de agosto de 2008

Crescer

Desde os 15 anos de idade eu trabalho fora de casa. Estágios, empregos regulares e bicos sometimes, sempre com o intuito de adquirir algo. Objetivos, nem sempre alcançados, traçam o meu perfil profissional. Uma televisão, um DVD... criar um filho, comprar um carro. Sempre corri atrás do que é meu e acreditava inocentemente que isso era crescimento.

Acreditava.

Na realidade, crescer é muito difícil. Nem sequer eu sei ao certo o que isso significa. Dar valor real às coisas, talvez. Saber a hora e o local de agir, acertar mais vezes do que errar. Quem sabe um dia dizer “não” pela primeira vez. Cada pessoa tem o seu momento. Talvez “crescer” seja reconhecer este momento.

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Tenho trabalhado em horários castradores. Do ponto de vista literário e pessoal, sou um deserto de autonomia discutível. Nem ao menos tenho tempo de escrever no meu caderno, quando consigo tira-lo à tempo da pasta. Das idéias sobram poucas linhas, tão vagas quanto discurso eleitoral.

Pois foi justamente aí que reconheci o meu momento. Com a notícia de que meu fim-de-semana seria novamente de trabalho, com um aviso de 2 dias de antecedência, minha mente começou a funcionar de uma maneira diferente. A promessa de um passeio no domingo para a Rafaela, e a impressão inquietante de estar sendo desrespeitado, me levou à sala do gerente com alguns questionamentos. Ele me pediu um tempo para poder conversar, sendo que aguardei no me posto de trabalho por quase 40 minutos. Foram 40 minutos de compaixão de alguns colegas com minha cara de descontente, e o desencorajamento de outros, como se ficar quieto e aceitar fosse uma opção.

Sentado à frente do gerente, depois de 40 minutos de tortura mental, me faziam suar como um boi no brete. Respirei fundo e mandei tudo, de uma só vez, no colo dele.

Não, eu não vomitei, caso seja isto que está pensando. Fui sincero e só isso. Minha mãe, no auge de sua sabedoria, um dia me disse que a verdade é sempre a melhor escolha. Sai da sala com tudo resolvido e com um final-de-semana para curtir com a família. Muitas vezes, é só abrir a boca para conseguir o que se quer.

domingo, 20 de julho de 2008

Breve resumo dos últimos acontecimentos

Durante os últimos meses, talvez durante o último ano, eu estive tão envolvido com família, negócios e dormir (sim, eu durmo um pouco) que não consegui sequer responder meus e-mails ou visitar os blogs de que gosto. Muito menos ainda, tive tempo de escrever e postar neste meu caro espaço, onde sempre mantive meus textos organizados com apreço.

Olho agora, durante o exato momento em que escrevo, para o meu pobre caderno de anotações. Ele foi tão utilizado nos vai e vens do trabalho, tão requerido nestes últimos tempos, que anda cansado de ser o meu analista. As folhas estão amarelando, os cantos estão ficando arredondados e os seus dias estão contados.

Vou descrever seqüencialmente o que aconteceu desde julho de 2007:

- 01/07/07. Trabalhava tranqüilamente em uma empresa de multinacional Brasileira (gaúcha na verdade) de médio porte, com grandes chances na carreira. Tinha ganhado uma valiosa promoção a menos de 1 mês e tinha as tardes livres em frente ao computador. Resolvia problemas e ainda tinha tempo de escrever, blogar, conversar e ser livre. Poucas vezes fazia horas extras, e ganhava um pouco a menos da média da minha categoria.
- 07/07/07. Esta foi a data cabalística do início de minhas correrias. Consegui um ótimo emprego, com ótimo salário para os meus padrões, numa empresa de mega porte.
- 08/07/07. Descobri, sem perceber o tamanho da mudança que estava por vir, que meu novo horário de trabalho seria das 16:10hs às 2:20hs. Nesta mesma data descobri que não tinha mais uma semana comum de trabalho como os outros mortais. Eu estava trabalhando em escala agora, mais precisamente em uma semana de 12 dias. Eu trabalharia quatro dias para folgar dois, depois mais quatro dias para poder folgar um. Ou seja, passava um final de semana em casa a cada 75 dias. Uma beleza.
- 09/07/07. Percebi que o não havia feito um negócio tão bom assim.
- 13/08/07. Recebi, por telefone, a proposta de internet rápida da única empresa que disponibiliza o sinal na minha região. Por segurança financeira, nego o serviço antes de me organizar.
- 01/09/07. Recebi o meu primeiro contra-cheque e a vida começou a fazer sentido novamente. Poderia, com a rescisão da outra empresa e mais minhas economias, comprar um carro para a família e começar a sonhar alto com uma casa só nossa. Descobri como é importante ter poder de compra, e descobri que havia vivido tempo demais correndo atrás da máquina. Havia chegado o momento de capitalizar.
- 12/09/07. Tento me dar de presente de aniversário uma internet rápida. Entro numa fila de espera de meses.
- 20/09/07. Comprei o nosso primeiro carro. Um palio vermelho com 9 anos de idade, que batemos o olho escolhemos unanimemente. Minha primeira grande aquisição, depois de anos passando trabalho.
- 12/10/07. Primeiro Dia das Crianças em que não tenho pesadelos com as crianças infelizes.
- 25/12/07. Primeiro Natal em que não tenho pesadelos com as crianças infelizes. Conseguimos fazer um agrado a quase todo parente próximo e ainda fizemos uma ceia divina.
- 15/02/08. Percebo que não tenho mais tempo para quase nada e que não tiro férias à 3 anos. Mal visito meu blog e não consigo nem ler os meus e-mails.
- 01/03/08. Ganho o direito de folgar 2 finais de semana com minha família por mês. Parece que as coisas vão melhorar.
- 07/04/08. Recebo uma proposta por telefone de internet rápida. Aceito na hora, me cadastro e faço tudo bonitinho.
- 30/04/08. Perco o serviço da babá das crianças pela manhã. Eu já não tinha tempo, agora então. Fazer almoço e ser acordado pela Rafinha às 9:00 hs todos os dias está acabando com a minha beleza. Lembrando que vou dormir sempre às 4:00.
- 20/05/08. Ligo para perguntar o porquê da demora da instalação da internet, quando sou surpreendido pela resposta “O seu cadastro não foi efetuado, senhor”. Lembrei de palavrões que havia esquecido.
- 05/06/08. Encaminhamos, eu e a Faby, toda a papelada para nossa união civil. Marcamos a data e convidamos os padrinhos. Se for pra estar casados, pelo menos vamos fazer direito.
- 22/06/08. Nova proposta de internet banda larga por telefone. Com muito cuidado, chequei todos os dados da empresa que me contatou e me assegurei de que meus dados não seriam utilizados em transações ilícitas.
- 23/07/08. A Rafa aprende a acordar, fazer o seu próprio café e me chamar depois das 10:00, olhando desenhos na televisão.
- 25/07/08. Com tudo instalado, ligo para pedir que o sinal de banda larga seja liberado.
- 27/07/08. Depois de uma cerimônia relâmpago no 1º cartório cível de Cachoeirinha, uma festa junina na escolinha da Rafa e uma colisão do nosso carro com o portão, recebemos os nossos convidados (1/2 dúzia de familiares e os padrinhos) em nossa humilde casa para uma comilança. Sem bebidas alcoólicas, devido à lei seca.
- 17/07/08. Banda larga “mode on” bombando em casa.

Já, mais informações sobre a minha vida e textos mofados retirados do caderninho.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Minha
Metade
Avesso ao
Ventre
De felicidade
Flores
Do Suave
Preenche
Minha
Vida
Te devo


Metade
Minha
Complemento
Completo
Repleto
E fruto
Ao bruto
Minha vida
Existência
E morte
A felicidade


Minha Metade
Metade Minha
Avesso ao Complemento
Ventre Completo
De felicidade Repleto
Flores E fruto
Do suave Ao Bruto
Preenche Minha vida
Minha Existência
Vida E morte
Te devo A Felicidade

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sou racional demais, algumas vezes.

Posso passar algumas horas dentro de alguma galeria, museu ou exposição. Entender idéias e compartilhar de sentimentos de artistas plásticos e escritores. No final, posso ficar chateado te ter de pagar para entrar.

Um filme me tira da realidade às vezes. Posso chorar ou rir, concordar ou discordar do roteirista. Se tiver ingresso de mais de R$ 8,00 reais eu boicoto. Vou à contra-gosto ao cinema, apesar de adorar o ambiente, o meio e a mídia.

Comprar um livro pode ser prazer ou dor, dependendo do título. O autor me identifica na multidão de olhos atentos, lacrimejantes ou entreabertos pelo sorriso. Se não for da série “pocket” eu nem olho.

Érico Veríssimo me fez chorar no ônibus.

Sou sentimental demais às vezes.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Não são sardas...

Vagalumes.
Sobre as copas
Noites iluminadas
Pelo desejo
De namorar dos
Vagalumes

Prateleiras

Procurava pelas ofertas em uma grande prateleira de óleos de cozinha. O preço lhe era salgado mesmo o menor deles. Pegou o que achou ser o melhor custo benefício e saiu dali, com quatro garrafas pelas mãos, quase caindo ou trombando em tudo o que passa.
Seu carrinho está longe, sua mulher e sua filha o aguardam apreensivas. O tempo voa quando se está no supermercado.
- Eu falei só 2 garrafas, tu não ouviste?
O tom de voz era o que mais lhe irritava. Ela falava como se estivesse diante de uma criança mal-criada, que zomba de sua tirania em silêncio. Guarda no seus olhos o semblante de reprovação e o ódio em seu coração transborda pelo seus poros. Agüenta em silêncio.
- Não posso mais falar nada, é isso?
O sangue lhe ferve na garganta. Ainda assim, não grita:
- Eu não ouvi, não sou idiota, apenas não ouvi.
- Não presta a atenção em nada.
- Olha, se vai ficar me tratando como idiota, pode ficar sozinha com as compras.
Poderia correr a rua, ou desprender um tapa proveniente da alma. Mas caminha para o próximo item da lista.

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Esticava o pescoço para enxergar o quadro, o que lhe rendia uma extensa dor no pescoço e ombros no final do dia. As dores de cabeça eram provenientes da visão fraca, que lhe fincavam na cara um óculos velho e feio. O único que os pais pudera comprar.
Sentava no fundo da classe. Achava que assim não era tão visado e podia até mesmo rir das piadas sem ser notado. Como toda criança franzina de 11 anos, tinha medo de ser chacota de colegas maiores. Como pode alguém não perceber a maldade nos olhos das crianças.

Elas não tem perdão e julgam, sem mesmo ser convidadas, qualquer semelhante que lhe cruzar o caminho com as costas curvadas e óculos fundo de garrafa. Passam da violência verbal para a agressão física para se auto-afirmar e não tem medo ou vergonha de adultos. Apenas aceitam as suas decisões pois não poderiam revidar com mesma força. São a crueldade da humanidade.

Ele achou que passaria sem ser notado. Entretanto, houve um professor que mudou o seu lugar na classe e amaldiçoou o seu futuro com o apelido de “micuim”. Não era nada, só uma bobagem. Era pra soar engraçado, mas não o era nada engraçado nas noites de pranto sem sono em que ele mergulhou.

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Passaram pelos laticínios e frutas, estavam quase chegando ao fim da jornada. Ele se virou, depois de muitos desentendimentos e disse o que sentia, de um jeito que somente quem já foi casado por muito tempo diria:
- Eu preciso de ti. Não posso ficar achando que não gosta ou não quer a minha companhia. Eu te amo.
- Eu também, e te peço desculpas. Acho que exagerei.

E durante um bom tempo, próximo aos olhos dos homens, o amor foi celebrado em um longo abraço de matrimônio. Aquele que se respira alternado e que o cheiro embala o medo de soltar.

Um carrinho de supermercado ali próximo acertou o seu traseiro em cheio e deslocou o corpo dele sobre ela. Depois de virar-se, ele exclama com o estômago:
- Tem gente que não se flagra.
- É verdade.
- Quer se agarrar vai pro motel...

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Sua mãe e pai achavam que ele esquecia ou não ligava. O que uma criança pode ter de preocupação a não ser brincar e se divertir? Mesmo quieto ou à noite, os seus olhos enxergavam e seus ouvidos ardiam ao som de seu apelido. Começaram os insultos na sala de aula e ele, cada vez mais revoltado, acabou por agredir vários colegas de classe.A fúria crescia mais rápido que ele, atrapalhando o seu aprendizado.

Sentia-se humilhado a cada brincadeira e não suportava mais a presença de alguns colegas. Percebendo isso, estes eram o mais desagradáveis que podiam com ele, explorando suas fraquezas e seu despreparo. Não existe ética na infância.

Entendeu que não podia lutar. Guardava cada palavra, cada vergonha, todo insulto ou grosseria, toda e qualquer humilhação em sua dispensa particular. Por anos se lembraria de cada gesto que não lhe concederam o esquecimento. Não sabia quanto lugar havia em seu coração, mas era involuntário. Estava lotado, mas sempre caberia mais.

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Sua filha adorava empurrar o carrinho até o caixa. Impossível para os músculos de uma menina franzina de 5 anos sem a ajuda escondida do pai. A fila não assusta a sua paciência de suburbano assalariado conformado, apesar do contínuo de 15 ou 20 metros de carrinhos e pessoas alternados. Cerca de ½ hora depois já são o meio da fila e diante da demora, o papo vai acabando e torna-se chato o fim de noite.

Sem nenhuma cerimônia, um carrinho começa a ladear a fila aos poucos. Num rápido movimento toma a frente do seu, o que faz o assunto cessar de pronto.
- Não pode... o cara não pode ser tão cara de pau.
- É o mesmo que bateu em ti antes...

E ninguém além dos dois abriu a boca pra falar. Pareciam sua filha, acuada em um canto e com medo da discussão. Percebendo a falta de apoio do restante da fila, ele hesita em chamar alguém ou falar algo. Ela não, não deixaria passar essa.

A cara de desdém do cidadão irritou, mas nem tanto. O jeito como se virou e fez que não era com ele passou perto de fazer um rombo em seu peito... mas passou. Um filme em sua mente, anos sem reação à violência muda de quem vira as costas. Insultos e um empurrão distante no espaço e tempo.

Agora, ali diante de seus olhos, não era a si que ignorava. Estava diante do seu limite insuperável, e o destino lhe dera a chance de reparar algumas coisas.

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Todos os anos passam e com eles a gente deixa um certo embaraço de não ter chegado a lugar nenhum. É como se a vida fosse um eterno reviver de cenas e condições em que não podemos alterar. E sempre há um novo natal, um novo começo, uma promessa não cumprida. Um desejo de ida sem volta, como uma migração para corações alheios. Sempre há um novo ano para se viver tudo, tudo de novo.

O menino olhou pra frente sempre, sem mesmo enxergar o que havia. Achou sua mulher em uma esquina esquecida, por suas andanças que queria esquecer. Jamais tocou no assunto “ele” sem ser perguntado e era muito reticente em seu passado. O futuro era o que ele queria, mais nada.

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Pairou no ar por um instante, e o mundo girou ao contrário sem querer. Com os olhos fechados ele se viu novamente em algum espelho da alma. Tal reflexo não lhe negou a dor ou sofrimento antes guardado. Não existe ética na consciência. Não era mais indefeso ou menino. Não era um produto do meio, não senhor. Era um produto de sua própria dor.

Sua mão pousou justa sobre a lata de atum a pouco depositada no carrinho e caminhou lentamente em direção aos dois, era hora do show. Fechou a lata na mão e, mesmo sem pensar no que estava fazendo, socou o homem no supercílio esquerdo. Caindo pra trás o homem ainda viu o seu opressor voando em sua direção. Aos que tentaram ajudar sobrou ainda migalhas do seu ódio. Soco a soco, com a lata ferindo o rosto alheio, esvaziou toda a dispensa de sua alma.
Ligo o pisca para um lado, mas viro para o outro. Tento me enganar que tenho escolhas.

Anotar

A idéia sempre surge quando não consigo anotar. Ônibus, trabalho, um momento com os olhos parados e o texto surge no horizonte. Nem papel, nem caneta, nem sequer um tempo para anotar nada. “Eu vou me lembrar mais tarde” penso, assim como penso que sou um grande escritor.

Lapsos à parte, tenho sorte de conseguir parar à frente do computador, liga-lo e ainda ter coisas para materializar. O que escrevo (e publico) é um extenso mínimo do que penso.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Eu tomei um café forte e não vai acontecer nunca prego os olhos essa hora quando estou em casa vou ligar o rádio e ver o que tem não vou sintonizar essa rádio não pois é muito chata e vou bocejar prefiro sim essa outra mais jovem mais agitada música rápida assim ta ta ta ta nana nenê que a cuca vêm pegar...

Ai cochilei e isso não pode acontecer desliga o rádio rápido isso está me nanando e preciso ver a estrada e ouvir o motor que pode me dar algo para pensar esse vrummmmmm nana nenê que a cuc...

Isso esta ficando perigoso eu preciso pensar em algo ou esse brummmmmm nana nenê que a cuca vem pegar... tatatatatatata perfeito assim por cima do cacurutos esse barulho de tatatatat nana nenê que a cuca vem pegar........ CRASH

quarta-feira, 12 de março de 2008

Para mim

Eu quero correr nu contigo pela casa toda novamente. E quero poder amar sem nem dormir a noite, pois ao fechar os olhos eu não consigo lembrar do teu rosto. Eu quero te amar e viver por ti novamente, pra ser jogado fora na festa dos teus 15 anos.

Quero saltar por sobre os sapos nos dias de chuva e correr do vento antes do temporal. Quero poder sentir seu cheiro no corredor, mesmo antes de te ver, e ao me virar encontrar com teu olhar de farol baixo. Quero dizer pra minha mãe que estou apaixonado, quando não tiver mais ninguém pra contar.

Tu terias que ser eu... para entender o sentido destas palavras. Difícil lê-las, sem lágrimas nos olhos.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Salão da escola

Afinávamos os instrumentos, como sempre, na sala do pastor. Disputávamos à tapa a pequena caixa amplificada, valvulada, a única que tínhamos naquele local minúsculo. Eu havia passado pelo salão antes e tinha visto a superlotação. Parecia que todos aqueles pais se importavam mesmo com aquelas criaturas horríveis e mal-educadas que eram constantemente chamados de filhos. Eu estava meio nervoso.

Combinamos com a banda principal que daríamos uma canja antes do show deles. Era como um treino, com platéia de verdade. Os caras da banda principal eram os meus ídolos. Já pareciam adultos, mesmo tendo no máximo dois anos a mais do que eu. E o melhor: eles tinham uma banda, tocavam fora da escola, nos festivais e shows beneficentes da cidade. Eu queria ser como eles, e acreditava que estava no rumo certo.

O cara do vocal sumiu e eu não encontrava. Cheguei suado na sala, onde os acordes eram ensaiados mesmo sem a base e o vocal oficial.

- Onde ele ta?
- Cara, ele sumiu... não achei em lugar nenhum.
- Como a gente vai tocar sem vocal?

E o silêncio pairou por uns instantes. A gente se olhou por um tempo...

- Tu vai cantar – falei olhando o guitarrista – tu tem voz...
- Bem capaz... eu mal consigo tocar, não vou conseguir.
- Eu to fora – a guitarra-base já ia escapando – não vou pagar o micão de tocar assim, sem o vocal.
- Então tu canta – olhando pra mim, o guitarrista se levanta...
- Mas eu mal sei a letra...
- Teu inglês é muito melhor do que o meu. Ensaia aí, a gente tem 30 minutos.

Fiquei pensativo. Eu podia pagar o maior mico, errar a letra, fazer papel de imbecil. Estaria tudo perdido em 3 ou 4 acordes. Peguei o papel e li. A letra não era complicada, eu sabia...

- Deixa que eu canto então... estamos nessa juntos?
- Pode crer... não vai fazer merda!!!
- Só tenho meia-hora, não me pressiona.

Entramos no salão e ficamos no fundo, mais encolhidos do que sentados. Nossas guitarras na mão. O baixo emprestado do Sergio era mais parecido com uma porta sem tinta do que com um baixo. A bateria estava no palco, usaríamos a mesma. Vários assuntos sobre a escola e os alunos, reformas e festas para arrecadação. Aquela baboseira de sempre. Sem perceber, a coisa toda se desenrolava e a gente foi relaxando.

- Agora eu quero chamar o no palco, os alunos da 6ª série, que prepararam uma música pra gente... podem vir aqui garotos!

A gente rumou mecanicamente pelo meio do corredor de gente, no meio de gritos de apoio e provocações dos nossos “amigos”. Aquele palco parecia tão distante... mas chegamos lá. Enquanto conectavam os instrumentos, eu via na cara dos guris o pavor de estar ali. Isso acabou com toda a minha confiança, eu tremia dos pés à cabeça... já havia esquecido tudo o que tínhamos ensaiado... De repente 1, 2, 3, 4... E a música rolou... alto e desafinado... ERA ROCK’N ROLL....

Exatos 5 segundos antes da primeira frase eu fechei os olhos, escondi o resto do rosto atrás do cabelo e fechei bem os punhos, na altura do peito. Se era pra brigar, eu não ia fugir.

Só abri os olhos novamente depois do primeiro refrão... e o que eu vi foi uma platéia enlouquecida cantando comigo. Dançavam na minha frente como malucos de hospício e gritávam o meu nome e de meus amigos. O meu medo e a minha reação foram considerados atitude e eu lavei a minha alma em 5 minutos de nirvana. Terminada a música que havíamos ensaiado o pessoal pediu mais e ainda tocamos outra, com mais entusiasmo ainda. Saímos aplaudidos, talvez não pela performance, mas pela garra e pela coragem.

Ainda hoje, quando fecho os olhos e canto sozinho, eu estou cantando no salão da escola.