quinta-feira, 31 de maio de 2007

Constelação pintada


Eu me declaro.

E me odeio por isso. Eu não consigo esconder aquilo que sinto, sou um copo de vidro.

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A minha perna treme quando vejo ela, e eu fico menos eu. É como se ela, mais nova e menos experiente, mesmo assim me dominasse. Me cumprimenta, com um “oi” caloroso e um sorriso muito (mas muito) gostoso. Nos beijamos quase no canto da boca, sempre no limiar do certo e do libidinoso. Logo depois, já estou com a cabeça enterrada em meio aos ombros, tentando sumir em mim mesmo. Ela fala com jeito, devagar, quase com calma demais. E sua voz é um pouco mais que um sussurro. Desconverso e vou embora. Um tchau, outro beijo no canto da boca, e me atiro escada abaixo.

Eu não sei se são suas coxas, incríveis, maiores que as minhas. Ou talvez o seu cabelo, naturalmente loiro. Talvez, seja a pele alva, pintada de uma constelação de sinais. Com certeza, ela me despe de sentidos e me deixa atônito, catatônico, a espera de mais e mais. Eu me desespero ao seu lado, e com muito nervosismo, me entrego sem querer. É a pele, sem dúvida.

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Como se não acreditasse somente em mim e em mais nada, deixo que o ódio tome conta do que preciso. Ao odiar o semelhante que me despreza, procuro em outro o que não tenho. E este sim, o ódio, tem peito estufado e o queixo erguido. Com ele, chego perto dela e me garanto como único capaz, único presente ao seu lado. É com esse ódio, de maneira desviada, que tenho coragem de te conquistar de verdade, que tenho vontade de fazer com que saibas o que realmente eu sou.

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Será que eu te conquistei novamente?

Circuito redundante

Vivo como se parte estivesse desligado.

Parcialmente uso o meu cérebro, para as tarefas diárias, que ocupam o máximo de 10% de minha capacidade. Até mesmo no trabalho, enquanto muitos se esforçam e dão tudo o que tem, o meu mínimo é elogiado e me faz o ego crescer desmedidamente.

Parcialmente sonhando, o meu mundo gira em torno do que eu sinto vontade, e eu sou feliz de mentira. Como cantou uma vez o Renato:

“E ao transformar em dor o que é vaidade,
Ao ter amor, se este é só orgulho
Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal faço cidade”

Mesmo essa felicidade, que não é toda por natureza de ser parcial e que não é real no mundo dos verdadeiros, mesmo ela me deixa com a cabeça cheia de idéias e com o coração enlaçado no ritmo da rumba. Ou seria do Rock’n Roll? Não sei... a letra é que é importante nesse caso.

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Ela sente que eu já sucumbi
E joga com a minha paciência
Eu temo é o que está por vir

Nossa hora é sagrada
Mesmo em silêncio
Eu me ouço entregar

Quando peço algo
Ou quando me calo
Não quero fazer

Mesmo que eu fale
Eu não pretendo
Dizer

terça-feira, 22 de maio de 2007

Os Bardos

Os bardos eram os menestréis dos antigos povos celtas que, acompanhados de suas harpas, cantavam os feitos dos deuses e heróis, ora nas reuniões palacianas, com cantos de amor e aventuras, ora nos acampamentos militares ou à frente das tropas, nos momentos das guerras, incitando-os à luta. Difundiram-se entre os galeses, escoceses, irlandeses e ingleses, e passaram à Bretanha francesa no século V, sofrendo influência do cristianismo em sua temática.
Cada família nobre orgulhava-se de seus bardos favoritos. Na Irlanda houve até escolas para a sua formação. Nesse país, suas canções, guardaram e transmitiram oralmente grande parte de sua história nacional. No País de Gales, gozavam de regalias especiais, como isenção de impostos e serviço militar.

Depois do século XII até a morte da rainha Elizabeth I (1603), organizavam-se espetáculos ou festivais de canto e poesia, os Eisteddfod (congresso), nos quais se exibiam os bardos. Os vencedores recebiam como prêmio o direito de figurar como bardos oficiais ou músicos de igrejas. No século XIX, procedeu-se à reorganização dos Eisteddfods, transformando-se o festival em uma instituição importante e estimulante para a vida intelectual e artística do País de Gales, com celebração anual, ora no norte, ora no sul, por meio de concursos de prosa e poesia e de música instrumental e vocal. Na Escócia, a despeito da influência da poesia dos bardos, sua importância nunca foi a mesma. Faltou-lhes a organização dos bardos galeses.
No século XVI, o termo bardo possui uma conotação de menosprezo. Na linguagem atual, a palavra tem dois significados: a) de modo geral, um poeta; b) especificamente, um grande poeta, com caráter e significados nacionais, no qual o povo reconheça o intérprete de sua língua e sentimentos.

(Fonte: Enciclopédia Barsa)

Cárcere

Todo dia pela manhã, se olhava dentro daquelas 4 metas, que lhe auxiliavam tão somente a fazer a barba. O espelho era para ele um instrumento apenas, uma ferramenta diária, onde se percebia o penteado torto e os dentes limpos.

Encontro marcado, pela manhã se mostrava a cara para o dia, mas sempre antes o espelho lhe alertava as imperfeições da sobrancelha e da costeleta. Fazia saber da necessidade do aparelho ortodôntico e da troca do óculos.

Entretanto, ele nunca viu realmente a si mesmo. Preso no espelho, atrás de sua imagem, outro cara agitava os braços furiosamente, tentando chamar a sua atenção. Mudo, fazia de tudo para ser percebido, mas nunca conseguiu sair da escuridão.

Mesmo depois de muitos anos, com a mesma vitalidade, sacudia o espelho por trás. Mudou de estratégia várias vezes, mas nunca desistiu de ser percebido a sua existência. Fazia da sua imagem escondida as coisas mais horrendas, para que nunca fosse esquecido caso visto.

Na janela dele, todo dia, uma menina o observava. Enxergava dentro, o que ele não via no espelho.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Parte de mim!

Essa música é o fim. O fim do que tudo podia ser. O fim de tudo o que já foi. O amor acaba nela.

Eu não consegui ouvir essa música num volume baixo, pois eu podia ter escrito cada palavra, exatamente essas palavras. Coloquei no repeat, sozinho em casa. Chorei. Aumentei o volume mais ainda e cantei, mesmo com voz alterada, mesmo sem voz. Eu gritei.

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Parte de Mim

Gram


Fomos tanto
Que sempre tinha gente aqui
Pra ver de perto
O que alguém chamou de amor
Que desmancha
E hoje a gente sabe bem
A casa está vazia agora
E hoje fica sem você

Quando eu te enchi de razão
Você me chamou de fraco, velho
Pegue o que tiver que pegar
Mais o que quiser
E parte de mim
Parte de mim
Quer te ver feliz
Parte de mim
Te expulsa e morre

Foram tantas
As brigas me faziam rir
Não era certo nem errado
ra o que devia ser
E nos dias
Nas datas pra comemorar
A gente não jurava mais nada
E só bebia pra esquecer

O que era lindo se foi
Agora é normal e chato, um tédio
Pegue o que tiver que pegar
Mais o que quiser
E parte de mim
Parte de mim
Quer te ver feliz
Parte de mim
Te expulsa, te perde
Parte de mim
Quer te ver feliz
Parte de mim
Te expulsa e morre

Então fica assim
O último apaga a luz
Na porta que não range mais
Ouvi o barulho mesmo assim

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Baixe a música ou compre o CD (vale a pena). Mas ouça
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Sede (original de 20/04/07)


Nunca havia sentido a inspiração subir a minha garganta, como ânsia de vômito. Me deixa a respiração ofegante e me deu a impressão de doença profunda, uma náusea quase incontrolável. Assim me veio as palavras.

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Carta da Sede
Eu não consigo controlar a minha sede, a minha aflição por sua boca. Eu sei que é loucura. Eu não sei nem se me verás do jeito certo. Eu não faço idéia dos teus gestos, eu não conheço o seu jeito. Só sei que estou exasperado por seu beijo, e não consigo me desviar deste pensamento. Mesmo quando não estás aqui, como nunca esteve, eu posso jurar que minha boca conhece a tua. E posso jurar que ela anseia pelo teu beijo por falta, e não por curiosidade. Parece desespero de carência, mas eu me conheço. A carência me bate sem vontade, é só parar de pensar, que ela vai embora. Em você, eu não consigo parar de pensar, muito menos mandar essa sede embora.

Tão pouco espero de ti que me aceites assim. Eu sei que não posso, e acredito que está completamente certa se isso lhe ocorrer mais forte do que o desejo de mim. Te peço que não me julgues como hipócrita e nem como aproveitador. Eu estou atrelado ao que fiz a mim mesmo, e não posso fugir disso. Sinto que perderei o que há de melhor em mim, se acaso eu não conseguir fazer com que minhas decisões sejam à meu favor.

O que espero, e unicamente espero de ti, é que compreenda a minha vontade, e a satisfaça se assim quiser.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Era uma vez... o de sempre: um problema.

Era uma vez... estava tentando abrir uma discussão no meu blog, afinal não entendia ou não conhecia o motivo que levava muitas mulheres a acentuar a natural insatisfação humana. Salvo pequenas exceções, em geral a mulherada abusa do beiço e da demonstração de insatisfação, quando o assunto é ser feliz e fazer suas vontades. Essas atitudes, quase sempre são veladas por homens e paparicadores de plantão, ou seja, sem uma justificativa plausível para mim. Isso parece uma moda antiga, coisa do passado, mas que não morre.

Mas, hoje me deu um estalo ao navegar e ler um artigo de um blog conhecido. Falava sobre ser feliz por completo, e que as mulheres nunca atingem essa felicidade, justamente por assim o serem.

Explico: Como todos sabem, parte do mês as mulheres se sentem, na sua maioria, irritadas e depressivas. Essa é a chamada TPM, estudada e muito divulgada por aí, seja como desculpa para excessos ou ausências seja por seu grau de veracidade. A mulher decide não ser “normal” nestes dias. Suas atitudes e sentimentos são adversos. Assim sendo, a mulher é livre e feliz por menos tempo que os homens, num prazo de 30 dias ou mais precisamente, 21, por que os outros sete são reservados para aqueles dias, o que fecha o ciclo de 28 dias (coisa de mulher). Parcialmente realizadas, diríamos.

Pois. Ainda hoje, quando nossas filhas estão crescendo, enchemos (novamente generalizando) as suas cabecinhas de sonhos, contos de fadas ultrapassadas e fábulas antigas, que nada tem a ver com a realidade. Existem sempre nessas histórias, seres mitológicos que representam o mal, o que é uma grande mentira, pois o mal é real e humano. Existem seres que representam o bem, que também não existem como os príncipes. E elas são sempre “a princesa”, borboletas efêmeras, o ideal de mulher, onde fica implícito a riqueza como ganho para tanto sofrimento, a bondade como solução para tudo e a beleza, sinônimo de estar do lado certo.

Para a perfeição, só ficou faltando o beijo final e o já propagado slogan “felizes para sempre”.

Mas como nada é perfeito, não existe “felizes para sempre”. Nessas histórias não contam como o príncipe faz para sustentar a princesa. E muito menos, que a moça em questão também deve ter dias de inferno esperando a dita menstruação.

O que estou dizendo, já foi dito. E também tudo aquilo de útero (como sendo uma caverna a ser descoberta e seus mistérios). O problema, somos nós. Os homens, que no lugar do útero temos o machismo. Mas sem generalizar, afinal acredito, verdadeiramente, que as coisas estão mudando. Talvez lentamente, mas estão. E o que gosto de acreditar é que o final de toda essa discussão sobre os sexos, vida amorosa, conjugal e social acabe com um grande entendimento e um longo beijo apaixonado, que irá despertar o homem e a mulher não para o machismo, nem feminismo. Mas para o Humanismo.

Correção by Adri Antunes

terça-feira, 8 de maio de 2007

Trabalho braçal


Dylan Thomas
Ele novamente.

"Para mim, o ‘impulso’ poético ou a ‘inspiração’ é a apenas a súbita, e geralmente física, chegada da energia para a perícia e o senso estrutural do artesão"

E ele tem toda razão, principalmente ao chamar o poeta de artesão. O poeta é alguém sensível, que percebe as coisas e a relação entre elas de maneira diversa a do senso comum. O que chamamos de inspiração é nada mais do que o momento exato em que nos dispomos a medir e expor (mesmo que para si) a idéia transcrita. Sobre essa idéia cabe rasuras e reestruturações diversas, de acordo com a veia do artista.
Assim, refinando ou não, lapidando a sua maneira, o artesão mostra o seu traço no resultado da obra.

Subvertemos o físico da palavra, distorcemos o seu sentido, para poder tirar os outros da sua realidade, transportando-os para a nossa.

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Para entender o trabalho de um poeta, é preciso antes de mais nada, transportar-se para a sua época, seu país e seu cotidiano. É impossível ler Dylan Thomas (e entendê-lo) sem antes conhecer sua história de vida e o contexto em que estava inserido no momento. Existem, é claro, poetas e poesia atemporal. Só os mestres, os verdadeiros, conseguem fazer isso de maneira consistente e inteligível.

Entretanto, o que muda de tempos em tempos são as pessoas. O contexto em que as pessoas lêem é crucial para que obra seja considerada genial ou não.

"A diferença entre uma paisagem e outra é pouca; é grande, porém, a diferença entre os que a contemplam. "
Ralph Valdo Emerson (1803-1882), crítico e poeta americano.

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"Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.

Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte."
Dylan Thomas

segunda-feira, 7 de maio de 2007

As Flores do Meu Jardim...

Ao sair da cozinha e entrar na sala de estar, corri os olhos em direção aos quartos das crianças. As luzes apagadas e as portas abertas, desertos de brinquedos e paredes cor-de-rosa. Voltei os olhos para baixo, para continuar o caminho até meu quarto, quando percebo a presença de dois olhos enormes e um sorriso de dentinhos tortos me encarando do canto do sofá.

Com um tabuleiro diante de si, cheio de quinquilharias: um duende, uma bola de cristal improvisada, bruxinhas de pano e bibelôs variados. Um turbante na cabeça completava o visual da minha vidente de 8 anos. Antes que eu abrisse a boca para perguntar o que ela estava fazendo, ela me aponta a placa (um papel escrito) em frente ao tabuleiro.

"Veja aqui o seu futuro. Eu leio a sua sorte...."

Nem terminei de ler o resto e a risada me veio sem querer. Abaixei-me e disse o que eu queria saber.

- Eu trabalho à 13 anos, já passei por várias empresas, mas eu não consigo ganhar dinheiro. O que eu tenho que fazer para ganhar dinheiro?
- Hum... deixe me ver.

Ela fechou os olhinhos e afagou a sua bolinha improvisada. Meditou por alguns instantes e me olhou nos olhos.

- Eu sei qual o seu problema.
- É?
- Tu tem que fazer aquilo que tu gosta de fazer. Só assim, tu vai fazer bem feito.
- Tem razão...
- E tem outra coisa. Tu tem que mostrar o que tu faz para os outros, senão as pessoas não enxergam.
- Obrigado filha...
- É um real – Estendendo a sua mãozinha para mim.

O conselho foi tão bom que eu paguei. Maldito capitalismo, já pegou a minha filha. Porém, eu também não tinha lido a letrinha miúda no cartaz "Consultas por apenas 1,00 real". Sai pensativo enquanto a vidente mirim aguardava sua nova vítima. Fui em direção ao meu quarto, onde a menor deveria estar olhando televisão. Ela tem uma coleção de DVD’s, doa mais variados tipos de animação.

Abro a porta e dou de cara com a cena. Ela está de pé na cama, de costas para televisão, segurando um travesseiro diante de si, com as pernas flexionadas. Antes de qualquer reação minha ela profere:

- Olha pai, o que eu inventei – E joga-se sobre a minha cama, como se pudesse voar, caído de barriga sobre o travesseiro.

Não restou outra alternativa. Eu que vinha do trabalho, cansado e pensando que a vida não valia a pena, deitei-me no chão de onde estava e tive uma crise de risos.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Chega sexta!


A semana é curta, eu sei. Mas eu não consigo mais me entusiasmar com isso!!

CHEGA SEXTA LOGO!